domingo, 8 de dezembro de 2013

A mulher que cortou os seios para pilotar carros de corrida



Violette Morris nasceu em Paris no dia 18 de abril de 1893. Violette era a caçula de seis irmãos e, por vontade dos pais, passou a adolescência no convento de L’Assomption de Huy. Apesar de reconhecer-se lésbica desde tenra idade, em 1914, ela se casou com um homem chamado Joseph Gouraud. Entediada pelo casamento, Violette se alistou no exército francês para servir durante a Primeira Guerra Mundial como enfermeira militar. Ela dirigia uma ambulância, participando na Batalha de Somme e na de Verdun. Em 1923, Violette resolveu ignorar as prováveis críticas da sociedade e pediu o divórcio para assumir sua verdadeira orientação sexual.

No exército, Violette se dedicou aos esportes, se tornando a primeira mulher francesa a competir nos arremessos de peso e de disco. Ela também fez fama no futebol feminino. De 1917 a 1919, Violette jogou pelo Fémina Sports e de 1920 a 1926, ela defendeu o Olympique de Paris, ela também fez parte da seleção olímpica da França.

Além da brilhante carreira no futebol, Violette praticou muitos outros esportes. Ela fez parte da seleção masculina de polo aquático, porque na época, a França não tinha uma seleção feminina para essa modalidade. Ela também foi uma excelente boxeadora. Adorava subir no ringue para desafiar os soldados, que, na maioria das vezes, saíam derrotados. Violette também praticou ciclismo de estrada, motociclismo, hipismo, mergulho, tênis, levantamento de peso e luta greco-romana. Seu mais brilhante período como atleta foi de 1921 a 1924, anos nos quais ela tinha como lema: “fait Ce qu’un homme peut faire le Violette!” – Qualquer coisa que um homem faça, Violette também fará.

Como você já deve ter imaginado, o estilo de vida de Violette era muito diferente do tradicional papel reservado às mulheres francesas da época. À margem das suas atividades desportivas, Violette levava uma espécie de vida dupla. Ela amava a noite, o vinho e as belas mulheres, que segundo os boatos do tempo, nunca lhe faltaram. Violette também era uma fumante compulsiva, ela consumia de dois a três maços de cigarros por dia. Até os amigos mais íntimos não entendiam como ela podia ser tão boa atleta e ao mesmo tempo levar uma vida tão desregrada.

O mundo, como é bem sabido, nunca foi um bom lugar para os ditos diferentes. Em meio às queixas sobre a vida noturna da atleta, a Associação Francesa de Atletismo Feminino negou a renovação da licença de Violette e ela não pode participar da Olímpiada de 1928, a primeira aberta às mulheres, em Amsterdã. Violette também foi acusada de imoralidade, especialmente porque um de seus amantes, Raoul Paoli, tornara público que a atleta era bissexual, não somente lésbica. Paoli havia se separado de Violette depois que ela decidiu submeter-se à uma mastectomia, para que pudesse pilotar carros de corrida com mais facilidade. Nos anos seguintes, longe de outras atividades esportivas, Violette montou uma loja de autopeças em Paris e se dedicou somente a pilotar e a construir carros de corrida.

A questão da mastectomia deixou bem claro a paixão de Violette pelas pistas de corrida. À medida em que o automobilismo evoluía, os carros iam ficando mais e mais compactos. Na época, na categoria em que Violette competia, os carros não podiam exceder os 400 quilos, tal exigência, tornava as cabines muito pequenas para os pilotos. Violette sofria terrivelmente com a pressão do volante contra seus peitos. Depois de extirpar os seios, ela mergulhou com mais sucesso no automobilismo profissional. O currículo de Violette nas pistas é impressionante: em 1922, ela venceu a Paris – Pireneus –Paris; em 1923, voltou a vencer esse mesmo evento e também subiu ao pódio na corrida Paris – Nice; em 1926, Violette venceu o Grande Prêmio de Saint-Sébastien e um ano mais tarde ganhou o Bol d’Or, nas 24 horas de Paris, pilotando um B.N.C; em 1934, ela venceu o Rally dos Dolomitas.
No final de 1935, Violette foi seduzida pelo nazismo. Ela participou como convidada de honra de Hitler nos Jogos Olímpicos de 1936, Berlim, em retribuição, forneceu aos alemães os planos parciais da Linha Maginot, os detalhes dos pontos estratégicos de Paris e os principais sistemas de suprimentos do exército francês.

Quando a Segunda Guerra Mundial começou, Violette, que perdera sua loja de autopeças na Grande Depressão, vivia modestamente, bem distante da glória e do glamour de antigamente, dando aulas de condução para sobreviver. Com a ocupação alemã da França, ela começou a contrabandear presunto e bebidas para o mercado negro, sempre dirigindo muito rápido e distribuindo alguns sopapos quando necessário. A agilidade dela ao volante e a fúria com os punhos cerrados, atraíram os olhares da Gestapo, que recrutou Violette para as suas fileiras.

Como agente da Gestapo, Violette tinha a incumbência de frustrar as operações da SOE, uma agência britânica que ajudava a Resistência Francesa, ela tornou-se tão temida pelo uso da violência e da tortura, que ganhou o apelido de Hiena da Gestapo. Trabalhando para os invasores alemães, Violette vivia confortavelmente num luxuoso barco, no Siena. Em 26 de abril de 1944, enquanto dirigia um Citröen por uma estrada rural, Violette foi executada a tiros por membros da Resistência Francesa. Ela tinha 51 anos. Seu corpo, crivado de balas, foi enterrado numa vala comum.

Via Superbizarro

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